Prefácio
"Brincando com as Palavras"
de Sílvio dos Anjos
Estamos
diante, caro leitor, de um livro de poemas cujo título se encontra num
emaranhado de signos ladeados, e por entre as linhas verticais e horizontais,
desde já, as temáticas se contorcem e se cruzam, sobre escritos que revelam as
andanças por onde andou o poeta Sílvio dos Anjos enquanto professor dentro do sistema
modular de ensino, desde à capital das mangueiras, Belém do Pará, até a cidade
de Nova Ipuxuna, atual residência, e passando por outras por onde o mesmo
deixou as suas marcas, tais como, Rondon do Pará, Bom Jesus do Tocantins, feito
um “Gauche na vida”, como diria o
mineiro Carlos Drummond de Andrade, simplesmente por não aceitar o óbvio, e como
consequência, um ser poeta – que ao convidar o leitor a abrir as páginas deste
livro utiliza-se de um neologismo – “amoretamo”.
Para
o eu-lírico, já na abertura do livro, “o
samba é sinônimo de alegria”, pois “quem
samba tem na alma a pureza”, ao evocar Maria, uma interlocutora tipicamente
brasileira, assim como o samba, em matéria de ritmo, de musicalidade, de
cultura. O brincar com as palavras perpassa por todas as linhas deste livro, desde
os curtos poemas, A cebola, O tatu, O
lápis, As cores da vida, passando pelos sonetos, marca registrada nesta
escritura, até os longos e descritivos, tal como, O velho mercado; e os narrativos, assim como, Saga de um menino.
Neste
livro, a forma na qual os versos estão formatados na folha de papel é parte
essencial ao dar sentido e significado aos olhos do leitor, como por exemplo,
no poema O trem, cuja marcação se faz
numa sonoridade que relembra as batidas peculiares de uma locomotiva, sobretudo,
no uso das aliterações e assonâncias bem pontuadas, formalmente exemplificadas
na brancura do papel, que nos faz lembrar outro trem de ferro, este, o de
Manuel Bandeira, em seu clássico “café
com pão”, demonstrando assim, o lado leitor do poeta Sílvio dos Anjos.
Entre
os poemas curtos e longos, temáticas variadas se alternam: desde o amor à
natureza que emana no seio deste poeta, significadamente no diálogo com outro
interlocutor, “Seu moço! Faça-me um
favor, traga-me da floresta o perfume de uma flor”; passando pela crítica
social, o tema da morte, do tempo, da saudade, até a paixão pela mulher amada –
a dama com duas esmeraldas, que “Sempre
serás e permanecerás bela, com estes olhos verdes como alga”, ao fechar o
livro.
Nitidamente,
a metalinguagem sobressai no bojo das linhas deste livro. Além de tratar o
poeta como um ourives, assim como fizera Olavo Bilac, certos versos, ao
referenciar a irmandade poética por onde passou, dialogam com à acentuação
descrita pelo poeta e crítico literário mexicano Octávio Paz, “Também fui escrito, e neste mesmo instante,
alguém me soletra”, em consonância com as linhas, por onde descreve os “papoéticos”, em homenagem a um dos
poetas das terras por onde andou.
O
título, “Brincando com as palavras”,
faz jus com o conjunto de versos em que o leitor irá se deparar ao abrir as
páginas deste livro, tanto em relação à forma quanto em referência ao conteúdo,
acentuando, sobretudo, o que reverenciava o grande poeta José Paulo Paes em um
dos seus poemas, na qual, “Poesia é
brincar com as palavras, como se brinca de bola, papagaio, pião”, porém,
como as águas dos rios que no correr do leito se renovam, assim como, “quanto mais se brinca com elas, mais novas
ficam”, num brincar permanente e cíclico, seja na escritura, nas reescrituras,
na leitura, nas releituras, que “eterniza-se
por séculos”, como no último verso do poema que retrata o trabalho do
poeta.
Robson Luiz
Veiga
Mestre em
Literatura e Crítica Literária PUC Goiás
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