terça-feira, 10 de junho de 2014

Brincando com as palavras


Prefácio


"Brincando com as Palavras"
de Sílvio dos Anjos


Estamos diante, caro leitor, de um livro de poemas cujo título se encontra num emaranhado de signos ladeados, e por entre as linhas verticais e horizontais, desde já, as temáticas se contorcem e se cruzam, sobre escritos que revelam as andanças por onde andou o poeta Sílvio dos Anjos enquanto professor dentro do sistema modular de ensino, desde à capital das mangueiras, Belém do Pará, até a cidade de Nova Ipuxuna, atual residência, e passando por outras por onde o mesmo deixou as suas marcas, tais como, Rondon do Pará, Bom Jesus do Tocantins, feito um “Gauche na vida”, como diria o mineiro Carlos Drummond de Andrade, simplesmente por não aceitar o óbvio, e como consequência, um ser poeta – que ao convidar o leitor a abrir as páginas deste livro utiliza-se de um neologismo – “amoretamo”.

Para o eu-lírico, já na abertura do livro, “o samba é sinônimo de alegria”, pois “quem samba tem na alma a pureza”, ao evocar Maria, uma interlocutora tipicamente brasileira, assim como o samba, em matéria de ritmo, de musicalidade, de cultura. O brincar com as palavras perpassa por todas as linhas deste livro, desde os curtos poemas, A cebola, O tatu, O lápis, As cores da vida, passando pelos sonetos, marca registrada nesta escritura, até os longos e descritivos, tal como, O velho mercado; e os narrativos, assim como, Saga de um menino.




Neste livro, a forma na qual os versos estão formatados na folha de papel é parte essencial ao dar sentido e significado aos olhos do leitor, como por exemplo, no poema O trem, cuja marcação se faz numa sonoridade que relembra as batidas peculiares de uma locomotiva, sobretudo, no uso das aliterações e assonâncias bem pontuadas, formalmente exemplificadas na brancura do papel, que nos faz lembrar outro trem de ferro, este, o de Manuel Bandeira, em seu clássico “café com pão”, demonstrando assim, o lado leitor do poeta Sílvio dos Anjos.

Entre os poemas curtos e longos, temáticas variadas se alternam: desde o amor à natureza que emana no seio deste poeta, significadamente no diálogo com outro interlocutor, “Seu moço! Faça-me um favor, traga-me da floresta o perfume de uma flor”; passando pela crítica social, o tema da morte, do tempo, da saudade, até a paixão pela mulher amada – a dama com duas esmeraldas, que “Sempre serás e permanecerás bela, com estes olhos verdes como alga”, ao fechar o livro.




Nitidamente, a metalinguagem sobressai no bojo das linhas deste livro. Além de tratar o poeta como um ourives, assim como fizera Olavo Bilac, certos versos, ao referenciar a irmandade poética por onde passou, dialogam com à acentuação descrita pelo poeta e crítico literário mexicano Octávio Paz, “Também fui escrito, e neste mesmo instante, alguém me soletra”, em consonância com as linhas, por onde descreve os “papoéticos”, em homenagem a um dos poetas das terras por onde andou.

O título, “Brincando com as palavras”, faz jus com o conjunto de versos em que o leitor irá se deparar ao abrir as páginas deste livro, tanto em relação à forma quanto em referência ao conteúdo, acentuando, sobretudo, o que reverenciava o grande poeta José Paulo Paes em um dos seus poemas, na qual, “Poesia é brincar com as palavras, como se brinca de bola, papagaio, pião”, porém, como as águas dos rios que no correr do leito se renovam, assim como, “quanto mais se brinca com elas, mais novas ficam”, num brincar permanente e cíclico, seja na escritura, nas reescrituras, na leitura, nas releituras, que “eterniza-se por séculos”, como no último verso do poema que retrata o trabalho do poeta.


Robson Luiz Veiga
Mestre em Literatura e Crítica Literária PUC Goiás




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