sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Agora, sim, posso dizer: sou Mestre em Literatura e Crítica Literária!



Agora, sim, posso dizer:
sou Mestre em Literatura e Crítica Literária




Fico a pensar, cá com os meus fantasmas, dois dias após defender a dissertação “Um cerco de Lisboa esteticamente construído entre dois tempos e duas estações” – cujo corpus literário fora o livro História do cerco de Lisboa, publicado em 1989, pelo único Prêmio Nobel de Literatura em Língua Portuguesa, José Saramago – o que seria de mim caso eu não tivesse cursado o Mestrado em Literatura e Crítica Literária na PUC Goiás? Não o que seria de mim em relação à carne, pois esta sabemos bem, que o tempo a urgir, vai lhe arremessando contra a parede; porém, em relação ao espírito, pois este sim, como um bom vinho português, só enobrece com o tempo. E aí fico pensando como estaria o meu espírito caso eu não tivesse todas aquelas horas de leituras e releituras, escritas e reescritas, ao correr da brisa nas madrugadas a fora em pura e eterna solidão. O que seria então de mim, ou melhor, do meu espírito?

Pois bem, a fim de responder melhor, procuro devanear através das seguintes linhas: creio que depois que a gente nasce, o dia mais feliz é aquele em que damos alguns passos por inteiro; depois vem a leitura da primeira palavra, e logo após, como no meu caso, o gosto da primeira hóstia, e o avistar, mesmo ao longe, o azul do mar, “nossa, mãe, como é salgada”; depois segue o primeiro beijo, o casamento, o primeiro choro do filho, e agora, já beirando aos cinquenta, a defesa do mestrado. Simplesmente, uma sensação ímpar, com toda a sua singularidade, e principalmente após ouvir da banca de defesa as seguintes palavras: aprovado com recomendação unânime de publicação e um breve retorno ao doutorado.

Aproveito aqui, para agradecer formalmente a todos aqueles que me ajudaram a vencer esta etapa da vida acadêmica, a começar por este veículo de comunicação, o Jornal Diário da Manhã, na pessoa da jovem jornalista, Sabrina Ritiely, por abrir espaço durante estes três anos de luta, a fim de publicar os meus artigos, ensaios, resenhas e crônicas, como devaneios críticos e literários, que já passaram dos trinta.

Não posso esquecer de agradecer a Pontifícia Universidade Católica - PUC Goiás como instituição, a qual recomendo, e aqui fica um eterno abraço carinhoso à coordenadora do curso, à Profª. Drª. Maria de Fátima Gonçalves Lima, sobretudo em relação ao apoio e incentivo, antes, durante e depois de cursar. Fica aqui também, um beijo enorme no coração da minha orientadora, a Profª. Drª. Maria Aparecida Rodrigues, tanto pelo carinho, as orientações, paciência e compreensão, como uma pessoa de fino trato.

Aos meus caríssimos e amados professores, meu muito obrigado: à Profª. Drª. Maria Therezinha Martins do Nascimento, que além de nos encaminhar nas trilhas do gênero dramático, bem como, da literatura comparada, nos permitiu alimentar de sua prosa pós-moderna, mediante o belo romance “Rapto de Memória”; à Profª. Drª. Lacy Guaraciaba Machado, cuja prudência e lucidez, nos permitiu vislumbrar os pressupostos teóricos acerca da Análise do Discurso, numa bela viagem teórica aos escritos de Michel Pêcheux; ao Profº. Dr. Divino José Pinto, cuja retórica e eloquência, nos enveredou rumo aos pressupostos teóricos desenvolvidos por Gerard Genette e Roland Barthes, aquele abraço; ao Profº. Dr. Éris Antônio Oliveira por nos encaminhar nas veredas poéticas e críticas do francês Gaston Bachelard, bem como, pelos diálogos em que tivemos acerca da crítica literária, seja nos corredores desta instituição, ou nos variados encontros não marcados nas livrarias da capital do cerrado; ao Profº. Dr. José Ternes, cujas viagens em meio à filosofia, nos enviou com toda sua mansidão e doçura em palavras, às linhas francesas de Michel Foucault; e aos professores ministrantes, tais como,  ao Dr. José Fernandes e ao Dr. Gilberto Mendonça Teles.




Até chegar à última linha da minha dissertação, alguns diálogos faceanos foram pertinentes ao processo desta escritura, viabilizando assim a retirada de todas as pedras que estavam no meio do caminho, e entre estes variados diálogos, não poderia deixar de agradecer neste espaço, à pesquisadora Eula Carvalho Pinheiro, amante incondicional da prosa saramaguiana, cujo doutoramento se presta na Universidade Nova de Lisboa; à Drª. Susana Ventura pelas suas considerações a respeito da literatura contemporânea portuguesa; à eterna crítica literária Maria Alzira Seixo, um doce de pessoa; ao amigo virtual e historiador português Paulo Capelo; ao Dr. Cláudio de Sá Capuano, por suas nobres ponderações; bem como, aos variados críticos literários que buscaram refúgio e prazer mediante a estética de José Saramago, e que tive o fervor em buscar auxílio em suas escrituras, e entre estes, não poderia esquecer de nomes como: Vera Bastazin, Simone Pereira Schmidt, Márcia Valéria Zamboni Gobbi, Gerson Luiz Roani, Salma Ferraz,  Teresa Cristina Cerdeira da Silva, Ana Paula Arnaut, Carlos Reis e Horácio Costa.

Assim, dedico a todos estes, como prova de agradecimento, o meu trabalho, fruto de muitas leituras e releituras em madrugadas infindas. Não esquecendo, é claro, da minha esposa Luciene Lago Souza Veiga, amor da minha vida, do meu filho Marcus Simeone Lago Veiga, que para mim é mais doce que o doce de batata doce, da minha querida mãe Elcira Veiga, e in memorian, da minha amada avó Vitalina Fraga; à Luciete Lago Lacerda e filhos, João Manoel e Vitória Regina, pelo apoio e consideração enquanto estive em Goiânia, e a todos os meus familiares, amigos e estudantes de Rondon do Pará que torceram por esta vitória, bem como, a todos os mestres em que tive a oportunidade de estar no banco de aula como aluno, em especial, da Escola Municipal Neder Issa e Colégio Adventista em Governador Valadares MG, Colégio Paraíso em São Gonçalo RJ, Escola Marechal Rondon e UFPA curso de Letras, em Rondon do Pará.

E aí o leitor poderia me perguntar impacientemente – e a Deus, não irás agradecer? Bom, durante os vinte minutos, que tive a fim de defender a minha dissertação perante a banca, um terço de madeira, advindo da bela Igreja de Nossa Senhora de Nazaré em Belém, como presente em promessa da minha amiga e professora Moisiane Felicíssima da Silva, esteve sempre a pulsar no meu bolso, como prova de que, “Tudo posso Naquele que me fortalece”.

Profº. Robson Luiz Veiga
Mestre em Literatura e Crítica Literária PUC Goiás


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Convite à Navegação!



Convite à navegação;
uma conversa sobre a Literatura Portuguesa.




Mar aberto seria o título que o Prêmio Nobel de Literatura José Saramago daria ao romance Jangada de pedra, obra esta publicada em 1987, e que segundo o enredo, a Península Ibérica se desgarraria do velho mundo a ancora-se no oceano Atlântico, entre as terras africanas e a América Latina, numa proximidade linguística e cultural, alegoricamente descrita neste romance saramaguiano, que discorre sobre o que aconteceria caso esta península se desmembrasse do continente europeu e vagasse pelo mar, como uma enorme embarcação a se aproximar, oceano afora, de suas antigas colônias. Mar aberto também é a obra crítica produzida pela pesquisadora Susana Ramos Ventura, amante incondicional da literatura lusitana, em relação à construção histórica e poética da Língua Portuguesa ao longo do último milênio, sobretudo em referência ao fazer poético traçado pelas linhas ficcionais dos grandes navegantes que utilizaram este instrumento de comunicação, tais como, Dom Dinis, Gil Vicente, Camões, Eça, Pessoa, Florbela e Saramago.

Desde os dez anos de idade, Susana Ventura vem trilhando as estradas poéticas mediante o ato de leitura, porquanto considera a literatura lusitana uma das mais ricas e fecundas do mundo ocidental, e que tende a ter, segundo a autora, maior visibilidade na terra de Drummond a partir da comemoração do Ano de Portugal no Brasil, evento este que a sensibilizou publicar em 2012, o seu primeiro livro solo, após um outro, já editado em março de 2010, Ciranda de escritas: reflexões sobre as literatura do Brasil, Portugal e Áfricas de Língua Portuguesa, em parceria com a pesquisadora Ana Cláudia da Silva.




 Convite à navegação – uma conversa sobre literatura portuguesa, da professora e pesquisadora Susana Ramos Ventura, doutora em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo, publicado pela Editora Peirópolis, além de conter uma análise histórico-literária do período acima mencionado, também conta com as belas ilustrações da arquiteta Sílvia Amstalden, participante do grupo Charivari, em seu décimo trabalho artístico desta natureza, que numa linguagem singular em forma de imagens, enobrece ainda mais esta obra de Ventura, situando-a como um convite a uma viagem ao mar aberto da Língua Portuguesa, desde a origem, quando ainda se falava o galego-português na terra de Camões - língua essa que teria nascido do latim vulgar, se mesclando depois à chamada língua moçárabe, devido à influência peculiar dos povos mouros que ocuparam do século VIII até o século XII o território lusitano.

Entre a historiografia oficial e à graça da poesia, Ventura inicia sua viagem escritural ao falar das “doces águas da poesia”, atravessando os pireneus à caça da poética trovadoresca produzida oralmente em Provença, e de lá trazendo numa tradução livre o canto do amor de Bernart de Ventadorn, como expresso na bela estrofe, “Cantar não pode valer de nada, se não parte do fundo do coração; e para comover é preciso que lá dentro exista um verdadeiro Amor. Por isso minha poesia é perfeita, porque para gozar plenamente o Amor emprego a boca, os olhos, o coração e o saber”, por onde, o rei sábio, Afonso X, haveria de trazer as cantigas daquela terra e abrir espaço aos trovadores, que, num determinado tempo, haveria de produzir não somente uma gama de cantigas de amor, como também a inovação ao criar a cantiga de amigo, que “Imersa num contexto social, a mulher aparece numa fonte, sob galhos de árvores ou junto ao rio, onde lava roupa ou se prepara para tomar banho. Em algumas dessas canções, ela lembra ou espera pelo amado, evocando sua presença em conversa com elementos da natureza”, como expressa a Ventura.

Como um trabalho singular que oferece ao leitor uma visão peculiar, desde D. Dinis a Saramago, numa linguagem que comporta, tanto o iniciante ao universo da literatura portuguesa quanto ao acadêmico, ao sabor de um bate-papo, Ventura se propõe ao longo do texto, após visitar os trovadores, encaminhar neste diálogo o cronista maior Fernão Lopes, por sua visão de conjunto ao elaborar suas crônicas, “dando relevo, pela primeira vez, ao povo, que considerou como agente de transformações históricas”, para logo após, encaminhar o leitor ao teatro de Gil Vicente, “cuja obra reflete características medievais e também renascentistas”, tendo por destaque, neste navegar de Ventura, os autos e as farsas vicentinas.

O convite à navegação na qual empreende Ventura se encerra ao discorrer sobre a singularidade poética das linhas de Camões, sobretudo, ao pontuar os meandros que cercaram a produção camoniana em torno do mais famoso poema épico em Língua Portuguesa, no caso, Os Lusíadas, como cântico a exaltar o povo português na época das grandes navegações, que salvando o manuscrito da obra num naufrágio, deixou em águas profundas sucumbir o corpo da amada Dinamene. Esta epopeia teve sua publicação referendada pelo rei Dom Sebastião em 1572, “como uma obra plena das aspirações do ser humano da Renascença”, cujo autor, não suportando a perda misteriosa de autonomia de seu amado país em favor da Espanha em 1580, chegou a declarar em carta que “acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha pátria que não me contentei em morrer nela, mas com ela”, sintetizando em palavras o que sentira naquele determinado momento mediante o domínio espanhol.

No interior desta viagem, Ventura se ancora em suas ponderações, ao considerar pertinente ao seu processo de escritura, o diálogo entre variados pesquisadores e críticos relacionados ao tema, tais como, Nelly Novaes Coelho que considera Camões a primeira grande voz a cantor o amor em terra lusitana, “como a grande via interior que leva os homens à mais plena realização existencial”, porquanto Paul Teyssier considera a partir daí, a constituição do português clássico, que doravante poucas alterações iriam ocorrer em relação à morfologia e à sintaxe. Além destes, esta navegação conta com certas ponderações do renomado professor e pesquisador Benjamin Abdala Júnior, bem como, do filósofo português Eduardo Lourenço e de Cleonice Berardinelli, esta que, relaciona o processo de escritura da obra Os Lusíadas ao contexto na qual a mesma fora escrita por Camões.  

Ao conversar com o leitor, embora utilizando a pena para tal finalidade, Susana Ventura neste livro, convida-o a navegar pelos mares da inquieta e robusta língua de Camões, nem que seja numa rede preguiçosa pra deitar, caso o mesmo não esteja à beira do Tejo, ao frescor das oliveiras, ou mesmo em sintonia do fado lusitano, pois, como diria Pessoa, “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”, presente no curto poema Mar português, ficando doravante, o convite ao amante da eterna Língua Portuguesa a navegar por mares, já ou nunca dantes navegados, e como salienta a autora, “que nos encantam ou que estamos por descobrir”, ou quem sabe ainda, por redescobrir.



                                                                                                           Profº. Robson Luiz Veiga
Mestrando em Literatura e Crítica Literária PUC-Goiás



Drª Susana Ramos Ventura

Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo, com tese sobre os romances de José Saramago, Mia Couto e Ana Maria Machado. Pesquisadora do Centro de Literaturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa (CLEPUL) e do Centro de Pesquisas sobre os Mundos Ibéricos Contemporâneos (CRIMIC), da Sorbonne (Paris IV). Autora de Convite à navegação: uma conversa sobre literatura portuguesa e Eu, Fernando Pessoa em quadrinhos (Editora Peirópolis).