terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"O amor vence tudo, vamos todos ao amor!"


"O amor vence tudo, vamos todos ao amor!"


A arte é o espelho da pátria.
O país que não preserva os seus valores culturais, jamais verá
a imagem da sua própria alma.
[Chopin]



O verso “Omnia Vincit Amor et nsa cedamus amori, escrito pouco antes de Cristo pelo poeta latino Virgílio, autor do poema épico Eneida, um clássico da literatura universal, faz parte do poema Eclogas, cuja tradução tem alguma coisa a ver com “O amor vence tudo, vamos todos ao amor”.

Com este verso, o poeta mato-grossense Daufen Bach, abre o seu sítio virtual de escritos em poéticos, ao considerar que “muitos acreditam ser, esta frase, uma utopia de Virgílio, eu prefiro acreditar que o amor sempre vencerá ou, que pelo menos, irá nos redimir...”, confessa Bach, deixando uma clara evidencia do que permeará a temática dos seus poemas.

Muito desta filosofia está diretamente ligada aos versos escritos por Bach, tendo o amor uma temática recorrente em seus escritos, bem como em seus pensamentos, e como poeta apaixonado que é, principalmente pela vida, carrega em seus traços na alma um dos mais belos escritos do poeta chileno Pablo Neruda: “Um homem só encontra a mulher ideal quando olhar no seu rosto e vê um anjo, e tendo-a nos braços, ter as tentações que só os demônios provocam”.

Encontramos na lírica deste poeta do centro-oeste brasileiro, variadas ruas temáticas folheadas em versos, que ora se encontra um Bach regionalista, que “Não se nega a vida porque ela é dura, não se nega a morte, por ser ela, de certeza, a certeza mais convencida”; ora existencialista, ao brincar com as palavras “Não quero ser nada, apenas ter a compreensão da estada nessas coisas que me roubam o tempo e a vida, ter a minha paz de aço antigo, de ácido e, mesmo sendo o pastor que vigia do alto da sebe o seu rebanho, rastejar nas coisas corriqueiras”; ora romântico, em versos metalingüísticos tais como, “às vezes, a poesia me irrita, brinca comigo, me afoga, me salva e me afoga de novo! é uma sandice, eu sei! porém, ela me completa, me traz, toda hora, a tua imagem e não me deixa miserável, mendigo...”; ora sensual, num brincar de corpos famintos em gozo eterno, ao escorregar da pele em fúria nas palmas das mãos; e por vezes uma poética apimentada em forma de crítica social, por onde “ele jantou chá de folhas de laranja e a noite de sumos ácidos engoliu o toco de vela”, como nos versos “Dos dias não fortuitos”.

A intertextualidade tão cultivada pela pesquisadora búlgara Julia Kristeva é marca registrada num dos belos poemas de Daufen Bach, “Aboiá um verso pra iludir o caminhar”, quando o mesmo dialoga com outro belíssimo poema do consagrado poeta das caatingas Patativa do Assaré, “Vaca estrela e boi fubá”, versos cantarolados pelo cearense Raimundo Fagner, ainda no início de sua carreira musical. Da mesma forma, o intertexto também se faz presente em outro belo poema de Bach, que dialoga com Manuel Bandeira, no tão famoso “O bicho”, numa crítica social que retrata o cotidiano do homem nas cidades grandes, na qual a coincidência perpassa nos versos, agora, não em forma de metáfora, mas como um fato. Embora a literatura não tenha a função de denunciar as injustiças sociais, como conceitua o crítico Harold Bloom, dando-lhe apenas o valor estético, não podemos fugir das amarras que amarram o poeta enquanto homem que produz o seu fazer poético em meio a tudo que lhe atravessa aos contornos do cotidiano. Afinal, a poesia é um construto humano.

Daufen Bach é um daqueles, cuja lírica, apesar de ainda não ter materialidade em forma impressa como tiveram Patativa e Bandeira, é virtuosamente acolhido pelo mundo virtual em “Era para ser canção”, cujo canto se encanta em muitos recantos e lares daqueles que amam a arte do pensar poético, pois como diria Bethânia, o homem precisa de poesia.


Robson Luiz Veiga
Mestrando em Literatura e Crítica Literária
PUC Goiás

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"Vamos Fazer de Rondon do Pará Uma Casa de Leitores"

Coitada da sociedade cuja premissa não seja a educação. Assim, entendendo que todo o processo educacional é rastreado ao solo da leitura, coitado do povo cujo hábito de leitura não esteja pautado em seu cotidiano. E creio, que em Rondon do Pará, ainda estamos engatinhando quanto ao hábito de leitura no círculo educacional. Primeiro porque não temos um programa sério nesta temática cuja nascente seja o próprio ambiente escolar, haja vista que grande parte dos nossos educadores não têm vício da leitura conjugado em suas veias, pois os mesmos, não foram educados com base na leitura, e quando digo educados à leitura, não me refiro à leitura obrigatória, tanto a do vestibular, quanto àquelas aulas chatas em que o estudante é obrigado a engolir a seco as linhas literárias sem nenhum bom motivo aparente, para depois, remexer aos exercícios questões aleatórias à própria leitura por antes mastigada; segundo, porque não temos à cultura em nosso município, desde a Secretaria de Educação até a mais distante das escolares rurais. 

Não resta dúvida de que precisamos nos ambientar dentro de uma cultura cujo fator primordial seja a leitura. Para isso, primeiramente a Secretaria de Educação, conjuntamente com a Secretaria de Cultura, tem que privilegiar em seus programas o hábito da leitura, seja na escola, ou na própria residência do estudante. Logicamente, que é um processo lento, que se aplicado eficientemente dentro das escolas desde à infância e seguindo aos anos vidouros, em dez anos possamos dizer que Rondon do Pará seja verdadeiramente uma Casa de Leitores. 

De cara temos um entrave: os nossos educadores não gostam de ler, isso, contabilizando, é claro, a maioria dos profissionais em educação, desde os coordenadores, passando pelos diretores, até chegarmos aos professores. Levemente encontramos aqui e acolá um solitário professor lendo algum romance. Não que seja um romance daqueles, mas já é um bom começo. Então, se não temos um registro de educadores amantes da arte literária, como teremos uma plateia de crianças e jovens inocentes a educar à base da leitura? Mas para isso, poderemos obter em Rondon do Pará a cultura dos Encontros, Colóquios, Seminários, Congressos, cujo tema seja sempre dedicado à leitura. E aí, surge sempre um engraçadinho a perguntar: e com qual recurso faremos isto e aquilo? Como se o FUNDEB não fora feito justamente pra este fim: o desenvolvimento educacional.

Que tal começarmos com duas Feiras Literárias por ano... Que tal começarmos por um Feira de Livro nas escolas por semestre... Que começarmos por Exposição de Livros no pátio escolar uma vez por mês... Que começarmos por um Sarau Literário por semana nas escolas... Que tal começarmos com um Concurso de Poesia por dia na hora do recreio... Que tal pelo menos começarmos a discutir o hábito da leitura entre nós educadores... Pois já cansei de ouvir nos corredores escolares uma frase besta que não cansa em conviver no cotidiano educacional: também, eles não gostam de ler? Mas, eles quem? Primeiro devemos dizer: também, nós não educamos nossos alunos ao hábito da leitura. Dizem que filho de peixe peixinho é...

O nosso estudante é tão inocente, que se chegarmos na sala de aula com uma revista na mão, ele logo irá pedir pra ler... Se chegarmos com um livro nas mãos, ele logo irá pedir emprestado... Se chegarmos com uma palavra cruzada, ele logo irá pedir uma caneta pra fazer... 

Na Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Dionísio Bentes de Carvalho criamos durante três anos um certo hábito de leitura, que seguramente acompanha um grande número de estudantes, que mesmo longe, hoje estudando uma graduação ou bacharelado, nos procuram em tempos de férias, "professor, tem um livro aí pra emprestar pra gente...". Com isso, saímos em 2008 ao número expressivo na época de trezentas e sessenta e oito leituras não-obrigatórias; em 2009, apresentamos mil e duzentas leituras não-obrigatórias; e em 2010, mil e oitocentas leituras não-obrigatórias: um recorde no estado do Pará. Sem falar, que sessenta por cento das leituras saíram da minha própria estante, pois carrego comigo o seguinte lema: "livros não foram feitos a ficar nas estantes; antes, porém, passar por mãos e mãos", pois essa era a cultura de antigamente, a troca de livros entre leitores assíduos, e poderíamos, num futuro não tão distante, regatá-la aos nossos olhos, isso é, se mudarmos nossas práticas enquanto educadores.

Alguns, os mais céticos, poderiam dizer: são apenas palavras ao vento, porém, que seja um vento forte, daqueles capazes de arrebentar a ignorância dos fracos, e imprimir, mesmo que seja numa cidadezinha do interior, o hábito da leitura, para que no futuro, possamos nos orgulhar do trabalho que outrora fizemos. Essa deveria ser a nossa meta: Fazer de Rondon do Pará Uma Casa de Leitores. Vamos nessa?

Robson Luiz Veiga
Mestrando em Literatura e Crítica Literária
PUC Goiás