sábado, 14 de janeiro de 2012

A beleza da crítica!


Uma obra literária quando deixa as mãos do autor, ao tomar forma em papel impresso, passa a ter vida própria em outras duas direções: a perceber, a primeira nas mãos do leitor comum, aquele que apenas tem o objetivo de matar o tempo viajando pelo mundo mágico das letras, uns, um pouco menos, outros, um pouco mais; enquanto, a segunda, nas mãos do crítico literário, aquele que tem o intuito de desnudar a obra, ao ler e reler, e se possível, ler novamente, tendo o trabalho em desvelar os pormenores e as minúcias da obra, como um verdadeiro garimpeiro da palavra.

Quanto a isto, a crítica literária, podemos destacar que a capital do cerrado abarca um leque de bons críticos literários. Hoje, trataremos apenas de um, ou melhor, de uma, pois trataremos da professora Maria Aparecida Rodrigues, doutora em Teoria da Literatura, autora entre outros livros, do aclamado pela crítica – O discurso autobiográfico confessional, um estudo delicado sobre o enigmático poeta português Fernando Pessoa.

O trabalho em questão é o recente livro lançado pela editora Kelps: Angústia Selvagem, cuja preocupação é desvendar o misterioso jogo de palavras que atravessam as páginas de dois belos livros da literatura brasileira: Angústia de Graciliano Ramos e Coração selvagem de Clarice Lispector, ao trabalhar com a filosofia da linguagem e o fluxo da consciência, num fôlego de cento e noventa e uma páginas, num concerto lingüístico que mescla a linguagem acadêmica à literária, pois o crítico também passeia pelas curvas da literariedade ao moldar o seu texto. E quanto a isto, segundo o professor Divino José Pinto, doutor em Teoria Literária, Rodrigues aproxima o discurso crítico ao discurso poético-literário, focalizando a linguagem fragmentada do romance moderno ao aproximar-se da vida conturbada da sociedade da época, “ao tratar da metamorfose do homem no tempo e na linguagem”, em destaque no prefácio do livro.

Assim, Maria Aparecida Rodrigues aproxima o fazer poético de Graciliano e Clarice aos monstros sagrados da literatura, tais como, Joyce, Virgínia Woolf e Guimarães Rosa, por exemplo, em referência aos artifícios e técnicas ao narrar através da linguagem flutuante e multiforme, admitindo que o fazer poético em Angústia e perto do coração selvagem reserva ao crítico, variadas possibilidades de análises, entre elas, a linguagem do contra-ponto e do cinema, numa análise fenomenológica que tem por objetivo mostrar através das narrativas em questão, o relacionamento entre a linguagem e o homem - a revelação do ser do homem em essência e existência, como manifestação autêntica do ser da personagem, fazendo um paralelo entre a degradação da linguagem em referência à degradação do homem na sociedade moderna.

Ressalta-se aqui, a coragem e o atrevimento do discurso crítico utilizado por Maria Aparecida Rodrigues em Angústia selvagem, que ao caminhar pelos labirintos da literatura graciliana e clariciana, revela ao leitor os pormenores deixados na complexidade da linguagem literária moderna, ao tratar, sob o ponto de vista da linguagem, numa análise crítica literária, da possibilidade de edificação do ser do homem e do fazer literário, admitindo em seu discurso, como suporte teórico-filosófico, as intervenções dos teóricos Georges Gusdorf e Martin Heidegger, sobre a linguagem, o homem e a obra de arte.

Angústia selvagem é um daqueles livros em crítica literária que não pode faltar na estante de graduandos e pós-graduandos do curso de Letras, bem como, aos poetas e amantes da arte da palavra. Uma boa leitura a todos, e um bom fim de semana.

Robson Luiz Veiga


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Aniversário de Belém do Pará!

“Vou te levar pra conhecer Belém...
Sei que tu vais apaixonar também...
Vou te levar pra conhecer o Ver-o-Peso, amor!

Vou te levar pra tomar um tacacá...
Vou te levar pra dançar o boi-bumbá...
Vou te levar pra conhecer a Doca do Pará, amor!

Vem! Vem!
Vem visitar Belém
Se apaixonar também
Vem conhecer Belém, Belém, meu bem!
Vem! Vem!
Vem passear no Círio
Vem namorar no trio
Vem conhecer Belém, Belém, meu bem!

Vou te mostrar o sabor do tucupi...
Vou lambuzar teu corpo com açaí...
Vou te levar pra banhar nas águas do Pará, amor!

Vou te levar pra tomar um tacacá...
Vou te levar pra dançar o boi-bumbá...
Vou te levar pra conhecer a Doca do Pará, amor!

Vem! Vem!
Vem visitar Belém
Se apaixonar também
Vem conhecer Belém, Belém, meu bem!
Vem! Vem!
Vem passear no Círio
Vem namorar no trio
Vem conhecer Belém, Belém, meu bem!”

robson veiga

Quem disse que ele são torcedores?


A imprensa brasileira, infelizmente, ainda teima em admitir que os vândalos que marcam encontros via net, com armas, paus e pedras, em nome do futebol, são torcedores. Pra cá nós, esses caras não torcem nem pro time A, nem pro time B, e sim, pelo time V, que poderia ser de violência, ou quem sabe de vandalismo. Mas a mídia tem lá os seus equívocos, dá mesma forma como tiveram há quase 20 anos, quando diziam que os caras-pintadas representavam a massa – era tudo uma farsa, pois aquele grupo representava os congressistas, a classe média, a avenida Paulista, Vieira Souto, pois naquela época, o povão mesmo, só fazia poupança debaixo do colchão. Mas deixemos o passado trancado em sete chaves, talvez algum dia alguém reinvente esta parte da história brasileira, assim como fazia Saramago em relação à historiografia oficial portuguesa.

Por enquanto, tratamos nós, daqui! O que nós não podemos é admitir que em pleno século vinte e um os homens se armam a troco do nada, ainda por cima deixando transparecer aos intelectuais que é tudo pela paixão nacional: o futebol. Cá pra nós, enquanto o garoto propaganda Neymar, a cada piscadela que dá, engorda razoavelmente a conta bancária, bancando de iates, e ainda por cima, passando as mãos no bumbum das gatas mais suculentas da zona sul, os caras ficam na net marcando encontros em turma apenas pra provar quem manda no pedaço. Idade da pedra? Não, era das minuciosidades, porém, também nesta era, o homem, mais do que nunca, precisa de um pouco mais de leitura.

Podemos admitir sim, que sem o futebol as tardes de domingo ficam desajeitadas; que a segunda, sem a gozação pra cima do torcedor adversário, fica careta; que as noites, sem as resenhas futebolísticas nas ondas do rádio, não tem luares; mas, tirar sangue do outro ser humano pela rivalidade criada pelo futebol, ah, meu amigo, isto não dá pra admitir. Não é futebol que causa tais desejos aos ditos seres humanos que fazem tais brincadeirinhas em hora marcada...

O futebol é feito de graça, beleza e arte. Sem falar, é claro, nas cores e cânticos das torcidas; do grito, do choro e das bandeiras que tremulam nas arquibancadas. Futebol também é feito das diferenças, das rivalidades, das antíteses, mas sempre convergindo ao paradoxo, pois não precisamos nos alimentar do sangue alheio só porque o nosso time perdeu mais um clássico. Ainda mais no cerrado, que nem futebol tem, ou tem? Duvido muito se tem!

Vejamos bem um bom exemplo. Numa final de brasileirão na década de 90, em pleno Maracanã, estava eu e minha esposa, lada a lado a curtir aquele belo espetáculo. Eu com a camisa do Vasco, embora não fosse o time do meu coração, pois eu era botafoguense, e ela com a camisa do Palmeiras. No final do jogo, o clube carioca havia levantado mais uma taça, enquanto ela, torcedora do time paulista, chorava em meus braços. Não precisamos nos matar por causa de uma simples partida de futebol, mesmo que seja a perda do título nacional. Futebol é apenas mais um dos prazeres criados pelo homem. O show da vida deve continuar.

Não sou fanático por futebol a ponto de cair do décimo andar só porque meu time perdeu o título para o rival. Mas adoro ver a alegria ou o choro do torcedor de coração. Aquele que pula, que grita, que faz e cumpre promessas, que desfila sorridente sua camisa colada ao corpo na segunda, e ainda goza o colega de trabalho, que puto da vida, olhar de mansinho o companheiro e diz: tudo bem, um dia é da caça e outro do caçador, me espere... ano que vem tá chegando aí! Agora, dá flechada um no outro por causa de futebol – espera aí, conta outra que esta estou careca de saber que tais “amores” não tem nada a ver com futebol, e sim, com caso de polícia.

Robson Luiz Veiga