quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Quem disse que ele são torcedores?


A imprensa brasileira, infelizmente, ainda teima em admitir que os vândalos que marcam encontros via net, com armas, paus e pedras, em nome do futebol, são torcedores. Pra cá nós, esses caras não torcem nem pro time A, nem pro time B, e sim, pelo time V, que poderia ser de violência, ou quem sabe de vandalismo. Mas a mídia tem lá os seus equívocos, dá mesma forma como tiveram há quase 20 anos, quando diziam que os caras-pintadas representavam a massa – era tudo uma farsa, pois aquele grupo representava os congressistas, a classe média, a avenida Paulista, Vieira Souto, pois naquela época, o povão mesmo, só fazia poupança debaixo do colchão. Mas deixemos o passado trancado em sete chaves, talvez algum dia alguém reinvente esta parte da história brasileira, assim como fazia Saramago em relação à historiografia oficial portuguesa.

Por enquanto, tratamos nós, daqui! O que nós não podemos é admitir que em pleno século vinte e um os homens se armam a troco do nada, ainda por cima deixando transparecer aos intelectuais que é tudo pela paixão nacional: o futebol. Cá pra nós, enquanto o garoto propaganda Neymar, a cada piscadela que dá, engorda razoavelmente a conta bancária, bancando de iates, e ainda por cima, passando as mãos no bumbum das gatas mais suculentas da zona sul, os caras ficam na net marcando encontros em turma apenas pra provar quem manda no pedaço. Idade da pedra? Não, era das minuciosidades, porém, também nesta era, o homem, mais do que nunca, precisa de um pouco mais de leitura.

Podemos admitir sim, que sem o futebol as tardes de domingo ficam desajeitadas; que a segunda, sem a gozação pra cima do torcedor adversário, fica careta; que as noites, sem as resenhas futebolísticas nas ondas do rádio, não tem luares; mas, tirar sangue do outro ser humano pela rivalidade criada pelo futebol, ah, meu amigo, isto não dá pra admitir. Não é futebol que causa tais desejos aos ditos seres humanos que fazem tais brincadeirinhas em hora marcada...

O futebol é feito de graça, beleza e arte. Sem falar, é claro, nas cores e cânticos das torcidas; do grito, do choro e das bandeiras que tremulam nas arquibancadas. Futebol também é feito das diferenças, das rivalidades, das antíteses, mas sempre convergindo ao paradoxo, pois não precisamos nos alimentar do sangue alheio só porque o nosso time perdeu mais um clássico. Ainda mais no cerrado, que nem futebol tem, ou tem? Duvido muito se tem!

Vejamos bem um bom exemplo. Numa final de brasileirão na década de 90, em pleno Maracanã, estava eu e minha esposa, lada a lado a curtir aquele belo espetáculo. Eu com a camisa do Vasco, embora não fosse o time do meu coração, pois eu era botafoguense, e ela com a camisa do Palmeiras. No final do jogo, o clube carioca havia levantado mais uma taça, enquanto ela, torcedora do time paulista, chorava em meus braços. Não precisamos nos matar por causa de uma simples partida de futebol, mesmo que seja a perda do título nacional. Futebol é apenas mais um dos prazeres criados pelo homem. O show da vida deve continuar.

Não sou fanático por futebol a ponto de cair do décimo andar só porque meu time perdeu o título para o rival. Mas adoro ver a alegria ou o choro do torcedor de coração. Aquele que pula, que grita, que faz e cumpre promessas, que desfila sorridente sua camisa colada ao corpo na segunda, e ainda goza o colega de trabalho, que puto da vida, olhar de mansinho o companheiro e diz: tudo bem, um dia é da caça e outro do caçador, me espere... ano que vem tá chegando aí! Agora, dá flechada um no outro por causa de futebol – espera aí, conta outra que esta estou careca de saber que tais “amores” não tem nada a ver com futebol, e sim, com caso de polícia.

Robson Luiz Veiga

2 comentários:

  1. Talvez o futebol como qualquer outra coisa ao invés de uma paixão se transforme numa fuga ou no descarregar da violência interior que muitos carregam. Nietzsche dizia em minhas interpretações, que o homem para manter o poder se utiliza da violência. Infelizmente esse homem não sabe que ganhar o jogo com a inteligencia e não as custas de machucar alguém é a única forma de conquista. A violência não traz a vitória e sim o adiamento dela e a frustração interior do homem.

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  2. belíssimo, andrea peixoto, mui belo pensamento!

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