quarta-feira, 2 de março de 2011

Quando a morte conta uma história, você deve parar para ler

É da natureza humana, correr atrás de algo que lhe incomoda, atormenta. Tanto as grandes paixões, cujo espírito fica revolto com o mundo e as coisas, a ponto de cegar o próprio ser, diante das pulsações que decorrem do atrito dos opostos, como a literatura – o ato de ler uma boa narrativa. E creio que todos nós já tivemos um frisson ao ler um bom livro, pedindo aos céus o alongamento da claridade – “Epa! Engrandece mais um pouquinho o dia, meu rei! Me dê mais uma hora, por favor”. Quem nunca viveu tal momento, ainda não viveu, creio eu, embora eu não seja dono da verdade, mas através da literatura podemos chegar mais perto da essência do real, não daquilo que realmente aconteceu, porém, daquilo que poderia ter acontecido. Então, enquanto lemos, passamos a fazer parte deste real imaginário. Sentimos as dores, o frio, o temor, as angústias e os risos dos personagens. Assim acontece quando lemos o romance de Markus Zusak, escritor australiano, publicada em 2005 – A menina que roubava livros, com as suas quase quinhentas páginas, apresentando um narrador não muito comum dentro da literatura – a morte. Isto mesmo, caro leitor, quem narra é ninguém menos que a morte, num tempo em que a mesma tivera muito trabalho a fazer, pois a narrativa se passa durante a segunda guerra mundial, em território da Alemanha nazista. Assim, a menina em questão, é perseguida pela morte, escapando da própria por três oportunidades durante o contorno da história. Logo na primeira cena, a pequena Liesel Meminger vê sua mãe a enterrar o irmãozinho. Momento em que a garota rouba o primeiro livro - O manual do coveiro, um livro preto com letras prateadas, após distração do coveiro ao deixar cair na neve. Depois ela é entregue às mãos de um casal moribundo, na cidade fictícia de Molching, próximo a Munique, sendo ele, um pintor desempregando; ela, uma senhora rabugenta. Segue assim, sina desta menina, uma sequência de livros roubados que lhe deram um norte em sua precária e desolada vida, mas ao ritmo lento. Ao ler as primeiras linhas, alguns leitores se atrevem a fechar as portas do livro. Mas depois, tornam a abri-las, pois não resistem ao fato de ser a morte a narradora da história, acompanhando a partir daí, todos os passos da nossa protagonista, que por três vezes deixa a narradora em estado de perplexidade. Sendo assim, meu caro leitor, deixo contigo as primeiras falas dessa nossa amiga inseparável, a qual um belo dia, com certeza a encontraremos, sorrindo como em todas às vezes, só não com nossa amiga Liesel Meminger... “Você vai morrer - Com absoluta sinceridade, tento ser otimista a respeito de todo esse assunto, embora a maioria das pessoas sinta-se impedida de acreditar em mim, sejam quais forem meus protestos. Por favor, confie em mim. Decididamente, eu sei ser animada, sei ser amável. Agradável. Afável. E esses são apenas os As. Só não me peça para ser simpática. Simpatia não tem nada a ver comigo”. Uma boa leitura a todos. Sem medo, é claro!
prof. robson veiga

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