segunda-feira, 14 de março de 2011

madrugando entre livros e afins

Neste carnaval, fui dá um passeio à Cidade das Mangueiras. Logo de cara, madruguei no aeroporto internacional de Brasília. Pra minha surpresa, espanto e desagrado, uma livraria estava fechada, tendo no letreiro, “por tempo indeterminado”; a outra, apenas um aviso – só abriremos depois do feriadão. Imagine você no aeroporto, na madrugada de carnaval. Você olha para um lado, olha para o outro, e de repente você pensa que faz parte de um filme de terror, pois não há ninguém ao teu redor, nem na tua frente, nem dos lados. Por um momento, ainda na parte superior, no território denominado de área de alimentação, além de mim, apenas um casal a observar romanticamente a pista vazia, bem como um velho, lá canto, com as pernas cruzadas e uma das mãos segurando o queixo, meio sonolento, olhando no pro infinito como quem não espera a hora de chegar em casa. Sendo assim, comecei a perambular entre os andares a contar as horas, e, é justamente nestas horas que as horas não passam. Bem, o jeito foi reler alguma coisa, pois na minha bagagem, como é normal, sempre há dois a três livros, no caso de uma necessidade como esta, já que não deu pra dá um passeio entre os livros nas livrarias do aeroporto. Porém, antes de reler, quando ainda estava procurando com as mãos em faro por algum livro na bagagem, ouvi algo cair no chão. Era um livro que descaiu mansamente das mãos de uma senhora rumo ao chão. Um romance da década passada literatura alemão, escrito por David Benioff, “cidade de ladrões”. Cheguei a conhecê-lo pela capa branca, contendo a figura de dois homens correndo por entre a neve, adentrando por um espaço aladeado por portões grandes de ferro, tendo por fundo a fachada de um belíssimo palácio. Não havia dúvidas quanto ao livro em questão. Na época, quando o li, foi como se eu estivesse dentro da história vivida pelo nosso personagem, o russo Lev, que vê sua própria terra sitiada pelo exército alemão, durante a segunda grande guerra mundial. Algo inusitado ocorre na narrativa. O nosso herói russo é preso por saquear o corpo de um piloto inimigo, abatido ao chão, estirado na neve, em frente seu apartamento. Levado a um general da polícia secreta russa, ele recebe uma ordem, caso não cumpra, seria fuzilado. Agora, como pegar uma dúzia de ovos num campo minado, numa terra destroçada pela artilharia inimiga, ou pelos compatriotas fugidios que nada tem para comer? Esta foi a tarefa a ser cumprida, por exigência do general, pois tais ovos seriam para fazer o bolo de casamento da filha do homem das insígnias, em plena guerra. Uma semana era o prazo a cumprir. Mas como resgatar uma dúzia de ovos sem escapar das balas do exército inimigo, ou da fúria e da fome dos conterrâneos, que por nada deixariam escapar uma galinha no quintal, quanto mais uma dúzia de ovos? Por entre quase trezentas páginas ao longo da narrativa, acompanhamos a epopeia do nosso herói junto ao seu amigo Kolya, um desertor. A cada página, sofremos com ele. A cada bala que passa rente ao nariz, murmuramos com ele. A cada caminhada em neve, sentindo a fome corroer o estômago, sentimos com ele. O fim do romance é surpreendente, emocionante e hilário ao mesmo tempo. Gostoso de ler. Numa daquelas narrativas que a gente nem chega ver o tempo passar. Mas, voltando a nossa madrugada de carnaval, o jeito foi me contentar em reler alguns contos de Saramago, extraído do livro Objecto Quase, lançado em 78, principalmente a narrativa “Embargo”, uma crítica a coisificação humana, em que o  carro do nosso personagem passa a ter vida própria em meio ao embargo do petróleo conferido ao árabes. Caso fosse escrito na atualidade, a coisificação seria em relação à internet, cujo homem, seria incapaz viver mais sem a mesma. Talvez a besta fera da contemporaneidade (www) proferida pela escritura sagrada.
Profº. Robson Veiga

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