domingo, 6 de março de 2011

livraria tem cheiro de vidas

Hoje à tarde, com o cair em mansidão da chuva fina que pairava na cidade, me lembrei de uma cantiga gostosa do alagoano Djavan, “um dia frio, um bom lugar pra ler um livro”. Bem! Logo pensei em sair direto a tomar um café bem quente, daqueles regado a conhaque, e depois, passear na livraria. Afinal, livraria tem cheiro de vidas. Então, procurei alguma coisa pra ler, porém uma narrativa curta, que desse pra ler em apenas um fôlego, no contemplar da tarde, ao cheiro da terra e das flores, e sendo assim, a melhor pedida foi o parque vaca brava. Olhei nos quatro cantos da livraria, e entre milhares de vampiros que saíam das páginas dos livros, me dei conta de um pequeno livro lá no canto. Logo me veio à memória meus tempos de adolescente nas terras morenas das minas gerais. “Os meninos da rua Paulo”, sim, este foi o livro que eu escolhi pra reler. Sim, digo reler, pois já havia passado por ele, mas como delineei lá em cima, nos meus tempos de adolescência. Na época, uma leitura que havia me marcado muito, pois tinha tudo a ver com minha própria vida pueril – uma vivência marcada por garotos da rua tal, enquanto outros, garotos da rua fulano de tal, e assim por diante. Ou seja, o que havia nas páginas deste livro, em muito tinha a ver com o cotidiano de todos os meninos da minha rua, bem como os meninos das outras ruas: brincar de bola, de peão, de pique bandeira, e outras brincadeiras mais, sempre num terreno baldio perto das nossas casas. Então, me sentei num banco do parque e fui relendo e relembrando minha própria adolescência – tempos bons que não voltam mais. Sabe, conheço tanta gente que daria parte do tudo de hoje pra voltar pelo menos um final de semana nos tempos de criança. E você caro, leitor, o que daria pra retornar aos tempos que só cabem na memória¿ O título é sugestivo – os meninos da rua Paulo, uma novela da literatura húngara, escrita pelo jornalista Ferenc Molnár, publicada em 1906, e traduzida pelo premiadíssimo escritor Paulo Rónai. O nosso herói é o jovem Ernesto Nemecsek, tido como soldadinho raso do grupo dos meninos da rua Paulo, que junto aos amigos de infância, tem como lugar para brincar de gente grande, o “ground”, em plena Budapeste de 1889. O enredo é permeado pela luta em domínio do “ground”. De um lado, os meninos da rua Paulo, do outro, os camisas vermelhas, que saíam de uma outra localidade a fim de tomar posse do espaço ocupado pelos amigos do jovem Nemecsek. Uma leitura que fará você passear por suas lembranças, recheada de toque de emoção, cujo final nos eleva a considerá-lo como uma sátira ao nacionalismo exacerbado anunciado por toda Europa, e prenúncio da primeira grande guerra mundial. Ao reler o livro, em um momento bem distante do primeiro, percebo a grandeza desta narrativa ao demonstrar o quanto o universo juvenil é retirado do espaço da rotina dos adultos. Como eu relatei inicialmente, procurava uma leitura curta, mas de apenas um único fôlego. Pois bem, ao cair o por do sol, senti a brisa na pele, a temperatura cair, ao chegar à última página do livro, porém, a página da vida continua, e o pensamento voando pra uma época em que não mais podemos voltar, a não ser, através da imaginação. A todos leitores, boas leitura, pouco vinho e um bom carnaval.
Profº. Robson Veiga

2 comentários:

  1. Belíssima a sua resenha, Robson!
    Um convite irrecusável à leitura!!
    Parabéns por este trabalho e pelo Blog também!!!
    Sucesso sempre!!
    Um abraço, meu amigo!
    Uma ótima tarde pra você!!

    Sirlene Rosa

    ResponderExcluir
  2. Me encantó... tiene una cadencia que te lleva suavemente. Muy hermoso.

    ResponderExcluir