domingo, 13 de julho de 2014

Trocando figurinhas numa manhã fria de domingo


Como diria Raul, o maluco beleza, domingo é dia de missa, praia e céu de anil. E quando estou em Goiânia, como nestas férias de inverno, sigo os passos do alagoano Djavan, ‘um dia frio, um bom lugar pra ler um livro’, e neste caso, nada melhor que a Praça Tamandaré, com suas cores, a musicalidade dos pássaros, o andar maneiro e poético dos passantes, o cheiro da relva.




Pois bem, chegando lá, após a leitura do jornal Diário da Manhã, é claro, vem a releitura do romance Manual de Pintura e Caligrafia, o primeiro do único Prêmio Nobel de Literatura em Língua Portuguesa, José Saramago, em sua segunda fase como romancista, autor dos clássicos Memorial do Convento e O ano da morte de Ricardo Reis, bem como, O Evangelho Segundo Jesus Cristo e O Ensaio sobre a Cegueira.

Enquanto ainda estou viajando pelo primeiro capítulo do livro em questão, a dez passos de mim um grupo de pessoas trocam figurinhas, na qual um diz, Eu tenho Messi, e outro replica, mas eu tenho Müller. Todas tem em mãos o álbum da Copa 2014, e ali, conferem o que falta ainda para completar o dito instrumento, trocando as figurinhas repetidas, ou às vezes, comprando aquelas mais distintas, mais nobres, mais singulares, tais quais os livros saramaguianos.

Isso me faz viajar no tempo. Recordo-me um pouco da minha infância nas manhãs de domingo em época de copa do mundo em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, na qual, nós adolescentes, sentávamos na calçada a fim de trocarmos figurinhas, e muitas vezes, era de forma do bate-bate, tentando virar todas as figuras numa só jogadas com a palma da mão encontrando-se fervorosamente com o solo.

E com o livro aberto, observo ao longe aquela turma. Não são apenas crianças: meninos e meninas; porém, são gerações que se encontram em torno da banca de revista, pois lá estão pais e filhos e avôs, numa cena rica e bela de ser ver, como no escrito do personagem H, do livro em questão, ao relatar que ‘a vida é extremamente simples’, e que ‘a ficção tem coisas boas: prova que as decisões do espírito e da vontade transcendem as circunstâncias’.

E assim vou levando a manhã de domingo, entre uma leitura, que em certos momentos dialoga com a vida real, levando-me num passado distante, concentrando-me antes da grande final no Maracanã entre argentinos e alemães, na melhor de três. E que vença o melhor!
Robson Luiz Veiga

Mestre em Literatura e Crítica Literária PUC Goiás 

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