domingo, 19 de junho de 2011

uma viagem no tempo e no espaço

Certas imagens que encontramos no cotidiano nos empurram a certos livros que já lemos com o passar dos anos. Às vezes são imagens simples, como um flamboyant no outono, clamando pela primavera, ou um homem com os cabelos grisalhos e a pele marcada pelo tempo, sentado no banco da praça observando crianças brincando no jardim, ao pensar em tempos idos que não voltam mais, a não ser em pensamentos, ou a despedida de alguém na estação ao último apito do trem, ou uma cidadezinha do interior realçando em nossos olhos toda sua ternura em relação ao tempo que passa vagarosamente em silêncio, como as sábias e encantadoras palavras de Drummond. São imagens que perturbam ou incomodam o pensamento, nos jogando ao longe, ao adentrarmos novamente no jogar lingüístico de um bom romance. Assim acontece comigo todas as vezes que entro na primeira sala da casa de Dona Nice, uma senhora bem cuidada ao longo dos seus quarenta anos. Logo na entrada, deparamos com um quadro exposto na parede, contendo ali, cinco gerações de uma mesma família, estando a senhora acima mencionada no meio, no centro da imagem, e logo a sua direita duas gerações anteriores – mãe e avó; e a sua esquerda duas gerações posteriores – filha e neta.

Assim, ao parar de frente ao quadro, logo sou enviado a pensar na saga da família Buendía, desde a fundação da cidade de Macondo até a sexta geração, quando a linhagem é encerrada, saindo da realidade e entrando no mundo fictício da obra-prima do escritor colombiano, nascido em 1928 e vencedor do Nobel de Literatura de 1982, Gabriel Garcia Marquez, ao relembrar do belíssimo romance “Cem anos de solidão”, publicado em 1967, através da magia que envolve os personagens deste enredo, que é considerado por muitos, como um clássico da literatura latino-americana, e sempre relacionado como um dos três grandes livros que não pode faltar na estante.

O realismo fantástico presente na história de “Cem anos de solidão” gira em torno da família Buendía, iniciada pelo casal de primos, José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán, mostrando os encontros e desencontros ocorridos que marcam toda a narrativa até que o último Buendía, com passagens poéticas e de extrema beleza ao encantamento da linguagem literária.

Só uma dica pra quem está a fim de fazer essa viagem na saga da família Buendía: prepare um fim de semana especial, só ler o livro, sem tormentos, sem amigos bobos ao lado, sem exterioridades que não caibam na leitura, ou seja, esqueça o aqui e agora, e de preferência, debaixo de um belíssimo flamboyant na primavera ou quem sabe, de frente pro mar, pois você irá se encantar e se apaixonar de novo, e quando chegar à última página, dirá aos céus: “poxa! acabou... queria mais”. E aí, com certeza, daqui a dez anos você vai reler essa belíssima narrativa mística de Gabriel Garcia Marquez, tendo mais de trinta milhões de exemplares vendidos em todo mundo, e sendo endossado pelas palavras de Pablo Neruda como o melhor romance em língua espanhola desde Dom Quixote de Cervantes.

Robson Veiga

3 comentários:

  1. Olá!

    Parabéns pelo Blog e por suas belas palavras.
    Sempre tive vontade de ler '' Cem anos de Solidão'' , mas sempre tive receio de não avançar na leitura - não sei porque. Mas, o seu texto fez despertar uma curiosidade a mais e com certeza vou seguir o seu conselho, de ler em um local calmo e em um dia exclusivo.

    Beijos.
    @livrosecq

    ResponderExcluir
  2. minha querida, eyka, te garanto que vc não vai se arrepender, uma narrativa daquelas que dá vontade da gente adentrar dentro da páginas e não sair jamais! beijão!

    ResponderExcluir
  3. já li e reli há muitos anos e talvez daqui cem anos estarei sonhando com borboletas a florir...

    Tarcisio Motta

    ResponderExcluir