Como diria Raul, o maluco beleza, domingo é dia de missa,
praia e céu de anil. E quando estou em Goiânia, como nestas férias de inverno,
sigo os passos do alagoano Djavan, ‘um dia frio, um bom lugar pra ler um livro’,
e neste caso, nada melhor que a Praça Tamandaré, com suas cores, a musicalidade
dos pássaros, o andar maneiro e poético dos passantes, o cheiro da relva.
Pois bem, chegando lá, após a leitura do jornal Diário da
Manhã, é claro, vem a releitura do romance Manual de Pintura e Caligrafia, o
primeiro do único Prêmio Nobel de Literatura em Língua Portuguesa, José
Saramago, em sua segunda fase como romancista, autor dos clássicos Memorial do
Convento e O ano da morte de Ricardo Reis, bem como, O Evangelho Segundo Jesus
Cristo e O Ensaio sobre a Cegueira.
Enquanto ainda estou viajando pelo primeiro capítulo do livro
em questão, a dez passos de mim um grupo de pessoas trocam figurinhas, na qual
um diz, Eu tenho Messi, e outro replica, mas eu tenho Müller. Todas tem em mãos
o álbum da Copa 2014, e ali, conferem o que falta ainda para completar o dito
instrumento, trocando as figurinhas repetidas, ou às vezes, comprando aquelas
mais distintas, mais nobres, mais singulares, tais quais os livros
saramaguianos.
Isso me faz viajar no tempo. Recordo-me um pouco da minha
infância nas manhãs de domingo em época de copa do mundo em Governador
Valadares, no Vale do Rio Doce, na qual, nós adolescentes, sentávamos na
calçada a fim de trocarmos figurinhas, e muitas vezes, era de forma do
bate-bate, tentando virar todas as figuras numa só jogadas com a palma da mão
encontrando-se fervorosamente com o solo.
E com o livro aberto, observo ao longe aquela turma. Não são
apenas crianças: meninos e meninas; porém, são gerações que se encontram em
torno da banca de revista, pois lá estão pais e filhos e avôs, numa cena rica e
bela de ser ver, como no escrito do personagem H, do livro em questão, ao
relatar que ‘a vida é extremamente simples’,
e que ‘a ficção tem coisas boas: prova
que as decisões do espírito e da vontade transcendem as circunstâncias’.
E assim vou levando a manhã de domingo, entre uma leitura,
que em certos momentos dialoga com a vida real, levando-me num passado distante,
concentrando-me antes da grande final no Maracanã entre argentinos e alemães,
na melhor de três. E que vença o melhor!
Robson Luiz Veiga
Mestre em Literatura e Crítica Literária PUC Goiás