terça-feira, 1 de julho de 2014

Uma manhã plena de significados!

Uma manhã plena de significados


Dos duzentos milhões de brasileiros, quantos ainda são analfabetos, ou seja, nunca pisaram num banco escolar, nunca tiveram o privilégio de descobrir o mundo mágico e fascinante das letras? Ou quantos ainda são analfabetos funcionais, ou seja, já sentaram num banco de escola, porém, não conseguem ler e interpretar, sequer, uma bula de remédio, ou até, uma breve receita de bolo, e às vezes, nem mesmo, conseguem escrever um simples bilhete, ou navegar por um verso de Drummond, pelo sertão de Rosa, ou pela alma recolhida de Clarice?

Assim, começou o pronunciamento da Profª. Milca Severino Pereira – Pró-Reitora de Pós- Graduação e Pesquisa da PUC Goiás, numa solenidade realizada no plenário da reitoria desta renomada instituição, na manhã da última quinta-feira, com a finalidade de entregar os diplomas dos novos mestres e doutores, cujas palavras, correram em paralelo aos versos do uruguaio Mario Benedetti, quando este escrevera, “não desistas que a vida é isso: continuar a viagem, perseguir teus sonhos, destravar o tempo, correr os escombros, e destapar o céu".




Por não se estender a todos os brasileiros, ou melhor, por ficar apenas numa pequena parcela destes, é que a Profª. Milca Severino Pereira tocou na palavra privilégio. Não no sentido pejorativo, segundo a ela, porém, um privilégio com aspas, sobretudo, devido às circunstâncias na qual aqueles que ali estavam foram levados a estar. Um privilégio a duras penas. Um privilégio gerado e movido, por forças muitas vezes tiradas donde nem sabemos como chegam, cujas linhas, trabalhadas por leituras e releituras, escritas e reescritas, só estão no ponto alfa.




Entre os variados momentos produzidos na breve solenidade, um instante me chamou a atenção: além das nobres palavras de incentivo, cativou-me o modo como a Profª. Milca Severino Pereira olhava nos olhos de cada um dos novos mestres e doutores; como se estivesse a falar com a alma de um poeta – cuja voz doce e meiga, estampava no rosto um sorriso pleno de significações; como estivesse a dizer: parabéns, você encontrou a outra margem do rio; agora, siga adiante, pois a caminhada é longa e o trote é curto, em breves passadas mansas à procura do mar.




Depois deste breve, porém, significativo encontro, não há como depositar o diploma de mestre ou doutor numa moldura certificada duma parede lisa. É hora de correr mundos e fundos por intermédio das linhas tortuosas e enigmáticas que nos levam ao conhecimento, pois, como bem escrevera Guimarães Rosa, “a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e depois afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer agora da gente é coragem”, e põe coragem nisso, meu caro Rosa.






Robson Luiz Veiga

Mestre em Literatura e Crítica Literária PUC Goiás

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